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O movimento da humanização se mostrou fundamental frente à
realidade de nascimento no Brasil: em que a mulher é tida como incapaz de
parir e por isso um parto normal não humanizado significa se submeter a uma
série de intervenções desnecessárias que violentam tanto a mulher como o bebê e
que a cada dia se mostram mais institucionalizadas dentro do sistema
hospitalar.
Toda essa medicalização e hostilidade perante o nascimento são
reflexos de como a sociedade encara o corpo e a sexualidade feminina. Porque o
parto é sim a continuação do sexo. E sexo e prazer para a mulher são tabus.
A naturalização da violência obstétrica é fruto de um sistema
patriarcal que subjuga a mulher. Combater estas violências, então, implica em
lutar contra o machismo e contra essa estrutura social.
Ao meu ver, portanto, não existe humanização sem feminismo.
Porque se a humanização é a luta pelo respeito à mulher e sua autonomia, como
tratar disso se não sob a ótica feminista? Qualquer tipo de humanização que
menospreze o feminismo tenderá a ruir.
Se não se mantém coerente o pensamento de que a mulher é
protagonista de sua vida, que não lhe cabe tutela, não há como ter humanização.
Não tem como defender o patriarcado e se declarar defensor da autonomia da
mulher sobre seu corpo . São coisas que se repelem.
Premissas como a garantia da autonomia do corpo e a igualdade de
gênero quando ausentes na assistência ao parto acabam por repetir o modelo
tradicional de assistência, visto que a naturalização e consequente
normatização das violências obstétricas decorrem justamente da subjugação do
gênero feminino tão combatida pelo feminismo.
Infelizmente o movimento pela humanização no Brasil ainda é
muito pequeno e conta com poucos expoentes, embora seja visível o grande
crescimento que se obteve nos últimos anos. E pelo movimento ainda ser pequeno,
que é necessário se preservar essas poucas vozes que lutam pelos direitos das
mulheres.
Contudo, preservar não pode significar a defesa a qualquer
custo. Porque se há um profissional que se diz humanizado (e ironicamente se
autointitula salvador de mulheres devolvendo-as o protagonismo no parto) mas
defende o sistema patriarcal como um sistema de sucesso que protege as
mulheres, esse profissional pode ser tudo, menos humanizado. Porque não dá pra
trocar a tutela do cesarista, pelo dito humanizado. Na humanização não cabe
tutela de ninguém, cabe somente o respeito à mulher e ao bebê.
No momento em que é mais importante manter nomes (mitos) da
humanização do que combater o patriarcado, que é o grande causador da cultura
de VOs, é porque a luta se perdeu, e o sistema opressor voltou a girar pro
mesmo lado.
Este texto se originou de uma discussão que também fez surgir esse aqui.
Este texto se originou de uma discussão que também fez surgir esse aqui.
*Essa frase foi bastante problematizada e acabei mudando de opinião sobre a questão do protagonismo mesmo na cesárea. As reflexões que surgiram podem ser lidas aqui.
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