quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sermões de ser Mãe - Resenha


Quando estava por volta do fim do puerpério comecei a ler compulsivamente. Primeiramente eram apenas os posts sobre maternidade, que logo passaram a acompanhamento assíduo de blogs para então começar a leitura de livros. Pretendo aqui escrever sobre todos esse livros que tenho lido desde então.

E, foi mais ou menos nesta época que fui apresentada ao livro "Sermões de ser Mãe" de Mariana de Lacerda. Um testemunho sincero de uma mãe sobre sua experiência de maternidade e sobre seu puerpério.

Para quem não sabe, puerpério é aquele período pós-parto, que tecnicamente costuma ser de 40 dias, mas que de fato pode durar muito mais do que isso. Para mim, durou cerca de um ano. E foi difícil, angustiante e sofrido. Gosto muito dos textos da Renata Penna sobre o assunto e ela define o puerpério como um luto. E acho que é bem por aí. O puerpério é um momento de introspecção, auxiliado pela bomba de hormônios que ocorre após o nascimento, em que percebemos a transformação que a maternidade traz: momento de deixar morrer a mulher que fomos para nascer uma pessoa nova. E o luto não é um período feliz, mas pode ser necessário. E, a despeito do que quero trazer aqui, está rolando um projeto muito legal da Ligia Moreiras Sena, do Cientista que virou Mãe, que vai transformar em documentário o depoimento de mulheres sobre esse período. Período este em que se preocupam muito com o bebê, enquanto a mãe está em frangalhos.

Enfim, acho bem importante pontuar a importância do puerpério porque foi através do livro da Mariana (sim, me sinto íntima) que eu consegui passar por este momento. Eu o encontrei através da resenha feita pela Isa Kanupp, do Para Beatriz, que é excelente!

Embora o livro tenha sido escrito quando a Estela (filha da Mariana) já tinha 7 anos, ele aborda os primeiros dois anos após o nascimento. A autora analisa o contexto social da maternidade: como ele era vivido antigamente e como o fazemos agora. A forma como criar filhos tem se tornando cada vez mais uma experiência solitária. Além disso, a expectativa das mulheres das gerações passadas era a de se tornar mãe. De alguma forma, maternar era o objetivo social das mulheres. E, hoje, espera-se que as mulheres estudem, construam uma carreira profissional, enquanto que não há estímulos para que a mulher possa se dedicar ao cuidado dos filhos sem prejuízo das outras esferas. Ao mesmo tempo, os homens continuam a sua vida pós nascimento com poucas alterações em relação à vida sem filhos.


Há, inclusive, um trecho do livro que me marcou muito em que ela conta como se sentia injustiçada pela sua vida ter mudado tanto enquanto que o marido continuava a sair lindo e cheiroso para o trabalho. Ah, como me identifiquei com isso!!!



Mariana aborda, então o contexto social, a expectativa que se coloca sobre as mães, o parto, a amamentação, o desmame, o casamento e, ainda, um visão psicanalítica sobre o assunto. Para mim, foi uma porta de entrada para a literatura existente sobre a maternidade. É um relato sincero em um discurso que parece uma conversa de amigas, de mãe para mãe.

Certa vez, emprestei este livro a uma amiga que, ao final da leitura, disse que apesar de ter gostado muito, sentiu muita culpabilização. Ora, era assim que eu me sentia. Eu, que nunca tinha pesquisado a fundo sobre maternidade, trazia a ideia do senso comum: que mulheres sabem ser mães, que sempre sabem o que é o melhor para o bebê e que a maternidade é uma fonte inesgotável de felicidade. Como não sentir culpa ao não me sentir feliz daquele jeito?

Recomendo muito, não só às mães, mas também aos pais para que possam entender melhor como suas companheiras se sentem; às pessoas que desejam a maternidade/paternidade e também a todo mundo que se interesse pelo tema.


O livro pode ser encontrado aqui.

*Também escrevi uma resenha sobre o livro "Eu não quero (outra) cesárea" aqui.





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