A partir do dia 10 de maio
deste ano, alguns aeroportos de Nova York passarão a contar com cabines de
amamentação similares a esta.
Quando soube da notícia
achei tudo muito bizarro, ainda mais vindo dos EUA que é um país conhecido pela
reprovação da amamentação em público. A mensagem é clara: amamentação em
público não é bem vinda.
Contudo, percebi que em
muitas matérias, ou mesmo por comentários de mulheres, fora levantada a questão
do respeito à privacidade, que a amamentação precisaria acontecer em um lugar
tranquilo respeitando intimidade da mãe e do bebê e que algumas mulheres teriam
pudor de amamentar em público. E eu vejo dois grandes problemas neste tipo de
argumento. O primeiro é a romantização do ato de amamentar e o outro é o pudor
em relação ao corpo.
Amamentar nem sempre é um
momento de paz e de intimidade entre mãe e bebê. Às vezes pode ser uma troca de carinho, pode
ser uma refeição, um refresco, um consolo e até mesmo “venha cá criatura e me
dê um pouco de sossego”.
Não parece lógico que alguém
tenha que se esconder para trocar carinho. Alguém precisa ir a um local
reservado para comer, beliscar alguma coisa ou tomar um suco? E um abraço
acolhedor, precisa ser feito longe de olhares alheios? E jogar candy crush na
fila do pão, seria vergonhoso? Então por que amamentar teria que ser feito em
um “lugar reservado”? Por que se associa a tal tranquilidade para amamentar com
se afastar de olhares estranhos? Não haveria tranquilidade simplesmente porque
há presença de pessoas desconhecidas?
Quem já amamentou em
público sabe que não é isso. O ambiente hostil vem dos olhares de reprovação. Das
supostas palavras gentis que te oferecem um local “mais reservado” ou mesmo um
paninho para cobrir o rosto do bebê. Por que um ato fisiológico que inclusive
nos nomeia enquanto mamíferos pode incomodar tanto? E é aí que entra o pudor em
amamentar.
O corpo da mulher é
sexualizado e objetificado. Ele é bonito enquanto cumpre a sua função de ser
erótico. Todo corpo feminino que não esteja dentro dos padrões eróticos ou não
esteja cumprindo essa função sofre grande pressão social para que seja
escondido. Seja o corpo da mulher gorda que não pode usar roupas justas, ou o corpo
cheio de celulites que logo é apontado na praia, o corpo que evidencia que já
abrigou outros corpos, ou o corpo que alimenta. Evidência de misoginia. Sim,
vivemos em uma sociedade que rechaça todo corpo feminino que não esteja
disponível para a erotização. Despe o seio que erotiza e esconde o que alimenta.
Afinal, quando se amamenta,
o bebê está à frente do seio. Mostra-se não muito mais que em um decote bem
cavado. E não me entendam mal! Seios são bonitos quando amamentam e também quando expostos dentro de uma blusa cavada. Não quero
moralizar decote nenhum. Quero apenas que as mulheres possam dispor do seu
corpo da forma como bem entenderem: seja para flertar, para obter prazer, para
ser funcional, para alimentar.
Há muita diferença?
E aqui?
Também não
vejo muita diferença de exposição aqui:
Ora, se a
diferença não é a quantidade do corpo que se mostra, para mim, é evidente que o
problema está no objetivo da exposição! O corpo que amamenta está cumprindo
função diversa daquele que nossa sociedade machista lhe incumbiu: o de servir ao sexo.
É preciso também falar do manto
sagrado que insistem em vestir nas mulheres que se tornam mães. Como se a maternidade andasse de mãos dadas com a castidade. E uma mulher casta não deveria mostrar os seios já que
os seios são sempre associados ao sexo.
E isso é uma mentira.
Maternidade não significa castidade. Amamentação nem sempre é troca de carinho.
É preciso desconstruir esse mito sobre ser mãe!
A amamentação é muito
importante tanto para a mãe como para o bebê. Conseguir estabelecer essa
relação depende de muitos fatores externos, dentre eles, o apoio. Ter liberdade
para poder amamentar a qualquer tempo e lugar fará diferença tanto na qualidade
como no tempo de amamentação. Afinal, nenhuma mulher consegue manter essa
relação se toda vez que seu filho quiser mamar ela tenha que se esconder.
Façamos do ato de amamentar algo tão normal como comer. Ora, e não é isso que
mamar, na sua função primária, representa?
Nenhum comentário:
Postar um comentário