quarta-feira, 8 de abril de 2015

Amamentar em cabines?

A partir do dia 10 de maio deste ano, alguns aeroportos de Nova York passarão a contar com cabines de amamentação similares a esta.



Quando soube da notícia achei tudo muito bizarro, ainda mais vindo dos EUA que é um país conhecido pela reprovação da amamentação em público. A mensagem é clara: amamentação em público não é bem vinda.

Contudo, percebi que em muitas matérias, ou mesmo por comentários de mulheres, fora levantada a questão do respeito à privacidade, que a amamentação precisaria acontecer em um lugar tranquilo respeitando intimidade da mãe e do bebê e que algumas mulheres teriam pudor de amamentar em público. E eu vejo dois grandes problemas neste tipo de argumento. O primeiro é a romantização do ato de amamentar e o outro é o pudor em relação ao corpo.

Amamentar nem sempre é um momento de paz e de intimidade entre mãe e bebê.  Às vezes pode ser uma troca de carinho, pode ser uma refeição, um refresco, um consolo e até mesmo “venha cá criatura e me dê um pouco de sossego”.

Não parece lógico que alguém tenha que se esconder para trocar carinho. Alguém precisa ir a um local reservado para comer, beliscar alguma coisa ou tomar um suco? E um abraço acolhedor, precisa ser feito longe de olhares alheios? E jogar candy crush na fila do pão, seria vergonhoso? Então por que amamentar teria que ser feito em um “lugar reservado”? Por que se associa a tal tranquilidade para amamentar com se afastar de olhares estranhos? Não haveria tranquilidade simplesmente porque há presença de pessoas desconhecidas?

Quem já amamentou em público sabe que não é isso. O ambiente hostil vem dos olhares de reprovação. Das supostas palavras gentis que te oferecem um local “mais reservado” ou mesmo um paninho para cobrir o rosto do bebê. Por que um ato fisiológico que inclusive nos nomeia enquanto mamíferos pode incomodar tanto? E é aí que entra o pudor em amamentar.

O corpo da mulher é sexualizado e objetificado. Ele é bonito enquanto cumpre a sua função de ser erótico. Todo corpo feminino que não esteja dentro dos padrões eróticos ou não esteja cumprindo essa função sofre grande pressão social para que seja escondido. Seja o corpo da mulher gorda que não pode usar roupas justas, ou o corpo cheio de celulites que logo é apontado na praia, o corpo que evidencia que já abrigou outros corpos, ou o corpo que alimenta. Evidência de misoginia. Sim, vivemos em uma sociedade que rechaça todo corpo feminino que não esteja disponível para a erotização. Despe o seio que erotiza e esconde o que alimenta.

Afinal, quando se amamenta, o bebê está à frente do seio. Mostra-se não muito mais que em um decote bem cavado. E não me entendam mal! Seios são bonitos quando amamentam e também quando expostos dentro de uma blusa cavada. Não quero moralizar decote nenhum. Quero apenas que as mulheres possam dispor do seu corpo da forma como bem entenderem: seja para flertar, para obter prazer, para ser funcional, para alimentar.

Há muita diferença?
 

E aqui?
 

Também não vejo muita diferença de exposição aqui:

Ora, se a diferença não é a quantidade do corpo que se mostra, para mim, é evidente que o problema está no objetivo da exposição! O corpo que amamenta está cumprindo função diversa daquele que nossa sociedade machista lhe incumbiu: o de servir ao sexo.


É preciso também falar do manto sagrado que insistem em vestir nas mulheres que se tornam mães. Como se a maternidade andasse de mãos dadas com a castidade. E uma mulher casta não deveria mostrar os seios já que os seios são sempre associados ao sexo.

E isso é uma mentira. Maternidade não significa castidade. Amamentação nem sempre é troca de carinho. É preciso desconstruir esse mito sobre ser mãe!



A amamentação é muito importante tanto para a mãe como para o bebê. Conseguir estabelecer essa relação depende de muitos fatores externos, dentre eles, o apoio. Ter liberdade para poder amamentar a qualquer tempo e lugar fará diferença tanto na qualidade como no tempo de amamentação. Afinal, nenhuma mulher consegue manter essa relação se toda vez que seu filho quiser mamar ela tenha que se esconder. Façamos do ato de amamentar algo tão normal como comer. Ora, e não é isso que mamar, na sua função primária, representa?

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